O Que é a Septuaginta?

A Septuaginta (LXX) é uma tradução antiga da Bíblia Hebraica para o grego, realizada entre os séculos III e II a.C. na cidade de Alexandria, Egito, um importante centro cultural da antiguidade. Seu nome deriva do termo latino septuaginta, que significa “setenta”, em alusão à tradição de que setenta ou setenta e dois sábios judeus participaram de sua elaboração. Este documento ocupa um lugar crucial na história da religião e na formação do cristianismo primitivo.
Origem Histórica e Propósito da Septuaginta
A obra foi concebida para atender às necessidades da grande comunidade judaica de fala grega espalhada pela diáspora, especialmente no Egito, onde muitos judeus já não dominavam o hebraico. Inicialmente, o projeto de tradução começou com a Torá (os cinco primeiros livros da Bíblia, também conhecidos como Pentateuco), mas, com o tempo, incluiu outros textos do Antigo Testamento.
A principal motivação da Septuaginta foi tornar as Escrituras acessíveis a judeus helenizados que ansiavam por manter sua tradição religiosa viva, mesmo em meio à influência crescente da cultura grega. Sua realização representa um exemplo clássico de adaptação cultural sem abrir mão de princípios religiosos.
Importância da Septuaginta no Contexto Religioso
Influência no Cristianismo Primitivo
A Septuaginta tornou-se a base para boa parte do texto do Antigo Testamento utilizado pelos primeiros cristãos. De fato, a maioria das citações do Antigo Testamento no Novo Testamento foram extraídas deste texto traduzido, e não do Texto Massorético (a versão hebraica tradicional).
Além disso, a Septuaginta influenciou a formação do cânon bíblico cristão. Ela não apenas facilitou a compreensão das Escrituras para falantes de grego, mas também serviu de recurso teológico essencial para afirmar a identificação de Jesus como o Messias profetizado no Antigo Testamento.
Inclusão de Livros Apócrifos ou Deuterocanônicos
Um atributo distintivo da Septuaginta é a presença de livros que não são encontrados no cânon hebraico. Estes incluem:
- Tobias
- Judite
- Sabedoria
- Eclesiástico (ou Sirácida)
- Baruque
- 1 e 2 Macabeus
- Acréscimos aos livros de Ester e Daniel
Esses textos, chamados de apócrifos ou deuterocanônicos, são aceitos pela Igreja Católica e pela Igreja Ortodoxa, mas rejeitados pelos judeus e pelos movimentos protestantes. Essa distinção gerou profundas diferenças na composição das Escrituras Sagradas adotadas por várias tradições religiosas.
Diferenças em Relação ao Texto Massorético
O Texto Massorético, que serve de base para a Bíblia Hebraica moderna, apresenta várias divergências quando comparado à Septuaginta. Algumas diferenças significativas incluem:
- Alterações na estrutura e organização dos livros
- Variações nos nomes de personagens e lugares
- Ausência ou adição de determinados versículos e passagens
Essas discrepâncias tornam a Septuaginta uma fonte de estudo fundamental para entender as transformações textuais das Escrituras ao longo dos séculos.
Rejeição Judaica à Septuaginta
No final do primeiro século d.C., as autoridades judaicas passaram a rejeitar a Septuaginta, preferindo adotar o Texto Massorético como sua referência oficial. Um dos motivos para essa rejeição estava relacionado ao uso frequente da Septuaginta pelos cristãos, que viam nela evidências das profecias messiânicas cumpridas por Jesus. Isso levou a um distanciamento deliberado em relação à tradução grega.
O Legado Duradouro da Septuaginta
Apesar de suas controvérsias, a Septuaginta influenciou profundamente a história religiosa. Para a Igreja Ortodoxa, por exemplo, ela ainda é a versão oficial do Antigo Testamento. Além disso, a tradução latina da Bíblia conhecida como Vulgata, feita por São Jerônimo no final do século IV, foi baseada, em parte, na Septuaginta.
Ainda hoje, a LXX é uma fonte significativa para estudiosos da Bíblia, pois oferece insights sobre as etapas iniciais da tradição judaico-cristã e sobre a disseminação da fé judaica na cultura helenística.
Conclusão
A Septuaginta representa uma ponte histórica e cultural entre o judaísmo antigo e o mundo grego, desempenhando um papel essencial na formação do cristianismo e na preservação do Antigo Testamento. Sua importância transcende o mero aspecto religioso, sendo igualmente relevante para a compreensão da interação entre diferentes culturas e tradições. Por meio dela, o conhecimento bíblico ganhou um alcance global, influenciando sociedades até os dias de hoje.